quarta-feira, 25 de setembro de 2013

De dentro pra fora


Sempre ouvi pessoas dizendo que eu deveria mudar. De alguma forma, até concordo com algumas delas. Mudar é um processo evolutivo e eu sempre estive em busca de mudanças. O que eu não concordo é que a gente deva mudar pra se adequar a alguém. Não, isso não! Mudança tem que partir de dentro e repercutir lá fora e não o sentido inverso. Estou acostumada com frases do tipo: "se permita mais", "acredite!" e "se dê uma chance", como se me permitir ouvir e refletir sobre isso tudo não fosse, de certa forma, uma permissão. Nunca acompanhei as meninas da minha idade. Sempre fui o tipo de garota que merecia ouvir a frase clichê de "você não é como as outras". Não que eu ache isso lá muita coisa, mas concordo por uma série de peculiaridades que, querendo ou não, eu tive que aceitar. Tive a fase de ver romance em tudo, a fase de só querer usar preto e aquele período em que a gente acha que nasceu pra esperar alguém. Felizmente, todos esses momentos passaram e deram lugar a quem sou hoje: aqui, deveria constar uma definição, mas nunca fui boa com isso. Melhor esquecer. O fato é que, dia após dia, fui desencanando dessa ideia de que ser feliz é estar com alguém. Aos poucos, a gente vai aprendendo a apreciar a própria companhia e dizem os sábios que esse é o primeiro e indispensável passo para que a gente aprenda a ser feliz com alguém. Sim! Falo de aprender porque a gente não nasce sabendo conviver conosco, muito menos com os outros. Se já é difícil nos aceitar naqueles dias em que tudo parece dar errado, porque atribuir a alguém a tarefa de nos acolher, em nossos dias nublados e cinzas? Não é fácil, mas é prazeroso. Aprender a conviver com o outro é a prova de que você executou com êxito a missão de se aceitar e se valorizar, antes de tudo. Essa é uma das coisas que as pessoas chatas e repetitivas deveriam sugerir: AME-SE! Talvez eu ainda me reconheça meio fechada pro mundo. Talvez, eu até não saiba desempenhar a missão de conviver em plenitude com o outro, por estar no meio da missão de fazer isso comigo mesma. Amar é exercício de dentro pra fora e eu ouso acreditar que a maioria das pessoas "fechadas" estão concentradas nessa tarefa de se conhecer, antes de aceitar os questionamentos do mundo. A minha resposta é a metáfora do borboleta: não é que eu tenha medo de voar. O tempo de que eu passo dentro do casulo é para que eu possa preparar melhor as minhas asas.


(Marílya Caroline)

Espaço Externo


“Está na hora de você encontrar alguém!”. Essa frase poderia ser facilmente endereçada a mim, em algum almoço de família qualquer. Ou até mesmo vinda de alguma amiga preocupada demais com a minha “eterna solteirice”. Dessa vez, no entanto, ouvi a frase no metrô, entre uma conversa de duas amigas que não deveriam ter mais do que 14 anos. Eu ri, porque se estava na hora daquela menina de 14 anos encontrar alguém, eu nem consigo imaginar o que sua amiga diria para mim, uma garota de 21 que não tem um namorado.
Depois, enquanto eu caminhava para o meu trabalho, comecei a pensar quantas mil vezes já ouvi alguém dizendo que eu deveria encontrar alguém. Provavelmente, ouvi essa ladainha aos 14, ou até antes. Mais tarde, então, a frase deve ter sido repetida pelo menos um milhão de vezes. Já fiz o tipo que ligava, já fiz o estilo que não estava nem aí. Dependendo do meu momento, doía ou só me fazia rir. Mas uma coisa é verdade: a gente sofre uma pressão desesperadora para namorar.
Eu já encontrei alguém. Eu já achei que era o cara certo, já achei que era o cara errado e decidi apostar mesmo assim, já achei que era amor e não era – nem da minha parte. Eu esbarrei com grandes amigos, grandes amores platônicos e casinhos que foram sendo escritos na minha história, que depois descobri que nem tinham tanta importância. Eu encontrei “alguéns”. O menino que era meu melhor amigo e foi embora; aquele que se apaixonou por mim, mas que eu não me apaixonei de volta; o cara que apareceu e me fez sentir coisas que eu não deveria sentir por ele. E aí, depois de todos esses alguéns, eu descobri que eu simplesmente estava procurando o alguém errado.
Não que eu queira dizer que todo mundo deva adotar a solteirice como modelo perfeito de vida. Quero dizer totalmente o contrário: modelos perfeitos de vida não existem. Não é só porque você namora e é feliz com isso que sua amiga solteira só será feliz namorando também. Namorar é legal, é ok e pode fazer crescermos muito. Aprender a lidar com o outro é uma das coisas mais bacanas da vida. Mas ficar sozinho, se olhar no espelho sem se desesperar e aprender a lidar com si mesmo, para mim pelo menos, é o verdadeiro sinal de que a maturidade está chegando.
Se eu pudesse voltar naquele vagão do metrô, talvez eu dissesse para aquelas meninas que elas realmente deveriam lutar para encontrar alguém. Deveriam tentar descobrir do que esse alguém gosta, o que esse alguém quer fazer, aonde esse alguém quer chegar. Eu diria para elas, talvez, que quando elas se conhecessem de verdade, as coisas seriam bem mais fáceis e leves. Talvez, se eu voltasse no tempo, eu dissesse simplesmente: “É, está na hora de encontrar alguém…e esse alguém é você mesmo.” Porque quando a gente se encontra, os alguéns que esbarram no nosso caminho se tornam uns baitas de uns sortudos. E a gente tem uma sorte enorme também."

(Fonte: Depois dos quinze)

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Memórias


Eu devo ter lido em algum canto que a gente nasceu para dar certo. Ah, tudo bem, talvez eu não tenha lido, mas quis acreditar assim mesmo. De fato, o destino e a vida deveriam colaborar mais pra isso. O certo seria fazer nossos planos a dois e viver nossos dias para fazer o outro feliz, se conseguíssemos fazer isso por nós, primeiro. No fundo, sempre acreditei e torci pra isso. Fiz planos e poesias bonitas, pensando em você, como se eu quisesse que o nosso "nós" fosse, por algum momento, parecido com aquilo. Eu e você éramos infalíveis e imbatíveis. Melhores que os casais de novela e mais fortes que os mocinhos-que-sempre-são-felizes-no-final. Tinha muito da magia que eu insistia em ver e um bocado de realidade bonita. Você me fazia melhor e mulher. Não é que eu te procure em todos os outros, já que nem eu mesma sei o que é, de fato, que eu busco. A única coisa que eu sigo buscando é alguém que me faça querer acreditar, mais uma vez, que essa coisa de pensar junto pode ser bom. Alguém que me faça não ter medo dos planos e da rotina, como se eu não tivesse certeza de que não abrir mão da minha é melhor e menos desgastante. Você, seja lá quem for, me deixou algumas certezas. Umas bonitas e outras nem tanto. A única interrogação que ainda ficou é sobre a que eu já disse, aqui. Li, em algum lugar, que a gente deveria dar certo. Não sei onde foi, mas você deve ter perdido o livro. O livro e o interesse de falar a mesma língua que eu e entender os mesmos códigos. O papel, o livro ou seja lá o que for se perdeu. Você me perdeu. E eu ainda busco me encontrar.

(Marílya Caroline)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Nosso "para sempre"


Fechei os olhos e vi um futuro bonito pra nós dois. Vi todas as coisas que nós poderíamos ter sido e não fomos. De repente, vi nossos filhos crescidos e nossos netos chegando. Vi que ainda éramos felizes, apenas do tempo ter levado a nossa juventude. Restou um amor que eu comecei a nutrir quando te vi. Vi o mesmo encanto que tomou conta dos meus olhos quando você, meio sem jeito, me olhou como quem diz: vem comigo! E eu fui. Fui, sem medo de olhar pra trás e me dar conta que ainda havia medo. Fiz as malas e parti contigo, sem perguntar pra onde, nem até quando. Eu sabia que seria bonito e sem prazo de validade. Dividiríamos as contas, o aperto e todas essas coisas que os casais comuns fazem. Abraçaríamos um ao outro, sempre que as palavras não estivessem ensaiadas ou quando o frio quisesse castigar, sem dó da nossa falta de agasalho. Eu te diria que tudo iria ficar bem e você acreditaria ou fingiria que eu consegui te tranquilizar. Ai você me beijaria e, mais uma vez, eu esqueceria da panela, no fogão e de todos os medos que eu já mencionei aqui. Eu e você éramos perfeitos, na nossa imperfeição. Imaginei a nossa casa amarela e não sei bem o porquê da cor, mas era. Vi nossos cabelos brancos e um monte de fotos indicando que nós fomos e ainda seríamos muito felizes. Eu vi você dizer que me ama, como se não lembrasse que havia dito isso, há cinco minutos. Não era falha de memória. Você sempre foi bom em me fazer lembrar o que eu nunca esqueceria. Você sempre foi o melhor em me fazer mulher, mãe, vó e amiga. Eu e você éramos, de fato, como os casais dos comerciais, só que com mais realismo e muito mais amor. Eu e você éramos os dias nublados e os mais ensolarados. Se o tempo não tivesse passado e eu não tivesse acordado, ficaria imaginando, até perder a hora, como nós poderíamos ter sido mais felizes se não fôssemos tão apressados. Se não fôssemos tão inseguros e imaturos nisso de gostar de alguém, cobrando mais do que ofertando e boicotando toda e qualquer chance de sermos felizes. Eu e você ainda faríamos muitos planos, mesmo que poucos se concretizassem. Pensaríamos em abrir um negócio juntos, em adotar um filho ou comprar um cachorro. Você iria me chamar umas mil vezes de linda e eu iria ficar vermelha, em todas elas. Eu iria sorrir e dizer que te amo em cada olhar direcionado ao teu rosto de menino. Eu iria, todos os dias, fazer uma prece para que tudo desse certo e pedir para que você colaborasse com isso. Eu ainda iria te pedir pra ficar, umas mil vezes, pelo menos, antes de você querer ir embora e você consideraria meu medo de te perder, certo da falta que eu também te faria. Você iria voltar do trabalho cansado e eu te faria massagem. Você iria ficar triste e eu arrancaria aquele teu sorriso empoeirado. Eu ia esquecer de ser feliz e você iria me lembrar como já fomos e seremos. Seríamos imbatíveis. Seríamos, acima de tudo, reais, apaixonados e felizes.

(Marílya Caroline)

[Fictício, ok?!]

sábado, 7 de setembro de 2013

O bem que você me faz


Eu queria ter um milhão de oportunidades pra te dizer, em todas elas, que o mundo parece ter ficado mais bonito, desde que você chegou. Se não o dos outros, ao menos o meu. Tô encantada com teu jeito manso de resgatar tudo aquilo que nem eu mesma sabia que havia perdido. É bom poder redescobrir as coisas que, durante um bom tempo, pareceram sem sentido. Sempre me disseram que, quando a gente encontra a pessoa certa, os sinos batem, as luzes piscam e o coração acelera. Com todos os outros, até posso ter sentido tudo isso, mas você é diferente justamente pela certeza de que, em meio a esse mundo louco, só você me trouxe paz. É só você que me ensinou que eu posso ter e ser muito mais.

(Marílya Caroline)