sexta-feira, 26 de julho de 2013

Metáfora de nós dois


Naquele dia, me convidaram para ir à um lugar que eu sempre tive vontade de conhecer e eu fui. Inicialmente, pensei se não seria melhor recusar. Dizer não é mais fácil do que arrumar malas e repetir o ritual de conferir mil vezes se fechei mesmo as portas e apaguei todas as luzes. Resolvi aceitar num daqueles meus impulsos loucos (aqueles que sempre me rendem algum arrependimento posterior), pautados na esperança de me ver livre do tédio, ao mesmo tempo que eu reconhecia já ter me moldado a ele. Aceitei sair pelo mundo, mas pensei milhares de vezes em voltar. Ver o meu cantinho se distanciar, à medida que eu avançava em direção ao novo me dava uma sensação de que eu não saberia voltar e eu nunca me preocupei com isso. O comodismo arruma sempre um jeito de nos fazer impotentes e, mesmo sabendo disso, eu ainda pensei em pedir pro taxista voltar. Pouco a pouco, fui esquecendo e deixando a neura pra lá. Chegar naquele quarto imenso, me deparar com toda aquela mordomia e a paisagem do lugar me roubou, por alguns dias, a saudade do meu pequeno lar. Enchi os olhos, distrai a mente e ocupei os ouvidos. Tentei arrumar as almofadas, alinhar os quadros e perfumar o ambiente. À noite, parecia mais frio do que meu quarto. Durante o dia, a claridade me impedia de repousar. Estranho perceber que eu sempre tive uma vida itinerante e o sonho de desbravar o Mundo mas, ultimamente pensava, a todo instante, em quando iria voltar. Usei essa analogia pra falar da gente. De alguma forma, não atribuir nomes ou personagens pra estas linhas tornou mais fácil falar da gente e te dizer que, em todas as vezes que eu fugi, foi pensando em voltar. Foi sabendo que você estaria lá. Posso procurar abrigo e calor em outros braços, mas é como ter que dar cor e forma a um lugar que não tem a nossa cara. Mais fácil é seguir a velha estrada e voltar pra casa. Melhor é não ter trabalho de arrumar ou bagunçar algo do zero, se você sabe que tem um lugar pra voltar e ver tudo como você deixou. Na verdade, não é melhor, nem mais vantajoso. É só mais fácil. A gente chama de zona de conforto o lugar onde a gente molda nossa covardia, nosso medo e toda a insegurança que couber nesse espaço que a gente cria pra se refugiar de nós mesmos. A gente chama de hábito o lugar onde a gente afoga todas as possibilidades de conhecer o novo. De certa forma, se privar do Mundo ou sair pensando em voltar pra casa é se afogar num reservatório em que você tem a zona de conforto e o comodismo sufocando a vontade/necessidade do novo. Não é que não gostemos de novidade, é que tomamos a forma do velho e acreditamos que tudo está bem como está. É baseado nisso o meu medo de ir embora. É medo de voltar e não encontrar a casa fechada, os móveis alinhados e a bagunça "organizada". Não é que eu tema não mais te encontrar. Eu tenho medo (e preguiça) de recomeçar. Por isso eu bato a porta, refaço as malas e volto, sempre pro mesmo lugar.

(Marílya Caroline)

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