segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Eu, depois de você


Achei que você deveria saber que eu não sou mais a menina que ri de tudo e que acha tudo bonito. Hoje, acordei diferente. Bateu aquela preguiça de me contentar com migalhas e não deu vontade de sair da cama pra buscar coisa alguma que me fizesse lembrar nós dois. O impossível, olha só, aconteceu... E eu me vi mais minha do que sua, coisa que nunca mais tinha acontecido, desde que você cismou de bater os olhos em mim e eu fiz a besteira de repousar os meus em você. Somos afiados, escorregadios e perigosos. Você tem uma semelhança comigo que chega a ser doentia. Gostava disso de ter pernas tremendo e mãos suando. Amava o teu jeito de injetar doses de adrenalina na minha veia, sem que eu sentisse nem ao menos a picada. Você foi bom demais na arte de me fazer feliz por uns meses, até que esqueceu disso. Não. Não espero respostas ou recomeços. Engoli as minhas verdades até que cuspi-las na tua cara fosse inevitável e, meu bem, você cedeu. Cedeu ao convite tentador do clichê que os outros me ofereceram. Bebeu na mesma fonte que os incontáveis caras banais que eu conheci e conhecerei por aí, mesmo que eu não queira. De uma hora pra outra, deixou de ser surpresa pra ser hábito e a receita do que era pra ser imperfeito-na-imperfeição desandou. Eu e você fomos falhos, fracos e não quisemos mais insistir em nada. Desistir sempre foi o nosso maior medo e acabou sendo nossa primeira escolha, como se a gente tivesse mais receio de dar certo do que de dar errado. Você perdeu a única chance que eu [me] dei de ser diferente e eu perdi o cara que, nas minhas melhores fantasias, poderia ter me feito melhor do que eu sou. Achei que você deveria saber que eu já não vivo os nossos planos, não sorrio com tuas piadas e já esboço aquele jeito todo meu de fingir não sentir nada, até que não fosse mais preciso. E não é mais. Essa desistência toda e a falta de jeito com reticências me deixou seca e a ironia voltou a ser minha melhor amiga. Não sou mais tua, nem nossa, mas estou bem. Mais Marílya do que nunca. Desapegada e impermeável.

(Marílya Caroline)

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