terça-feira, 25 de junho de 2013

A última carta


Mas não é por nada, meu bem. Cê sabe que eu não guardo coisas antigas, nem dinheiro, nem rancor. Parece aquele velho clichê de rede social, mas é só a realidade. A minha realidade. Tô partindo, sem deixar o endereço pra não correr o risco de você acordar, amanhã ou atrasado, como sempre, e achar que deve ir atrás de mim. Eu não parti pra você me procurar. Te dei meses pra você fazer isso, enquanto estávamos tão perto e você não o fez. Preguiça, comodismo ou convicção de que eu era sua demais. Pecou, meu bem. Pecou por saber que, por mais na tua que eu estivesse, eu não tinha chegado ao cem por cento. Uma chancezinha e zás: eu pulei fora. O barco tava afundando e não é que eu não queira me esforçar pra sobreviver contigo, mas é aquela época do tudo ou nada: tudo comigo e nada com você. Fiz a escolha certa ou, ao menos, acho que tô tomando o rumo que deveria ter seguido há um bom tempo. Você vai sentir falta, talvez, quando não tiver ninguém online ou você precisar lembrar como eu sou boa em te fazer sorrir, mas nada além disso. Sei também que vai descontar na academia ou na bebida a falta que eu faço. Querendo você ou não, meses se passaram e algum apego, que não seja à tua aparência, você deve ter por mim. Sinto muito que teus amigos só lembrem de você no fds e pra te chamar pra mesa de bar. Você tá em fase de construção e tudo que menos precisa é de pessoas que só te convidem a ser mais um. Foi por apostar no contrário que vivi tudo isso com você, mas é uma pena que não haja ninguém pra continuar. Apesar dos pesares, espero que você pense em mim e esqueça meu celular. A gente não vai perder o vínculo, mas você sabe que eu vou precisar de um tempo pra me recuperar. Essa não é uma carta de despedida, tampouco uma desistência confessa. Eu quis deixar algo escrito para que você visse o último fio se romper e você fingir, pra si mesmo, que não dava pra fazer mais nada. Não tô com raiva, mas talvez um pouquinho de decepção ainda reste. Não que eu tenha te feito assinar nenhum contrato, mas alguma cláusula subentendida de nós dois dizia pra não me machucar, mas você não me exitou... Me trocou. E antes que eu caia na tentação de querer saber mais sobre isso ou achar que ainda dá pra ser "eu e você", fiz as malas e fui embora. Não se preocupe. Há bastante calmaria e firmeza nos meus passos. Teus músculos (uma pena que seja só nos braços) não precisam mais me amparar em qualquer coisa que seja. Tua menina, sempre tão presente e, pra você, invisível, ainda te quer um bem danado, mas quero bem de longe, onde eu não possa mais correr o risco de repetir o caminho de volta e me entregar à tentação de te pedir pra voltar, quando você nem sabe que a gente começou.

(Marílya Caroline)

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