Lembro que te vi passar apressado. Pelas roupas, acho que
você ia trabalhar. Vejo que pouca coisa mudou, na tua vida. Você continua tendo
pressa em tudo e deixando muita coisa escapar. Entre elas, eu. Mas isso não vem
ao caso, né?! Só me passou pela cabeça, enquanto eu te via de longe,
expressando o mesmo ar de estresse. Você se dedica muito ao mundo e vive pouco.
Lembra das minhas queixas? Pois é. Eu queria atenção e você queria praticidade.
Falar de abraço sem hora ou beijo inesperado era demais para você. Carência
minha, para ser mais exata. Não nego! Eu sempre fui excessivamente coração e
você achou de ser a razão do nosso vínculo. Lembra dele, não é?! Tenho certeza
que sim, nem que seja nos momentos de frio ou quando você não tem quem te
esquente a comida ou o corpo. Não foi a saudade que me trouxe as lembranças,
mas talvez um tal de hábito. Eu me habituei a falar de nós como se fôssemos
plural, ignorando as minhas tentativas isoladas de fazer com que desse certo
uma relação que, desde as raízes, nós sabíamos que não ia florescer. Você, eu
acho. Eu sempre quis que desse certo, mas foi bom te conhecer, meu bem. Foi bom
poder te ensinar a andar sozinho e a ver, no mesmo espelho em que você dá o nó
na gravata, o menino que ainda mora em você. Era ele que eu gostava de
acalentar e é da falta dele que ainda se fazem as minhas boas e nostálgicas
lembranças, de um tempo em que pouco importava, além de nós dois. Você queria
alcançar o Mundo. Eu queria te fazer feliz.
(Marílya Caroline)
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