sábado, 12 de janeiro de 2013

Chamada perdida


Tentei te ligar. O telefone tocava e eu me arrependi milhões de vezes a cada vez que ele chamava por você, numa tentativa desesperada de saber por onde você anda, o que tem feito e se está com alguém. Tenho pensado em nós dois. Muito, cê sabe. E tenho pensado também em cada coisa que fizemos juntos e, principalmente, nas que não fizemos. Você marcou muito pra mim. Liguei para que você soubesse disso, mesmo que eu ainda não acredite que isso está saindo da minha boca. Você sabe o tamanho do meu orgulho, mas eu quem não sabia o tamanho do meu amor. Engasguei. Tentei engolir à seco tudo que eu sentia por você, jurando ser mais fácil  maquiar as coisas e apagar os nossos momentos, sempre tão vivos em mim. Mais uma vez, estava errada. Encontrava você no supermercado, nas idas rotineiras ao médico e até nas visitas à família, onde alguém sempre se preocupava em perguntar por você. Ah! Se eles soubessem de você... Se eles soubessem que quando alguém me pergunta sobre alguém, é em você que penso, mesmo sem nexo e motivos pra lembrar tanto de você, que nem sei se um dia lembrou de mim. E a saudade bateu forte, mas eu não me incomodei em apanhar. Sentir falta é a única coisa que nos cabe, quando alguma coisa acaba. Eu liguei pra dizer que as coisas, por aqui, continuam iguais. Eu continuo querendo te agradar e vendo você em tudo que faço. Ainda ponho dois pratos na mesa e a minha cama ainda espera tua toalha molhada, num ritual que me massacra e não quer admitir a falta que você faz na minha rotina, cada vez mais monótona. Você é o dono dos meus pedidos, quando alguém me pede pra fazê-los. Você é aquela imperfeição que cabe perfeitamente no espaço que eu deixei pra alguém ocupar na minha vida e, ainda assim, você vive tão distante de qualquer coisa que soe como uma soma. Você vive distante de nós dois. Enquanto o telefone chamava, eu pensei mil vezes em desligar. Pensei que você não tivesse meu número ou que simplesmente não quisesse atender. Pensei em tantas coisas que até esqueci do meu orgulho bobo, que sempre me impediu de tentar... Que me impediu de te pedir pra ficar mais um pouco e entender que eu não preciso de você pra viver, mas seria muito bom se você ficasse, mesmo sabendo disso. Eu sei caminhar sozinha, mas prefiro quando a tua mão me orienta e teus passos seguem o mesmo caminho que o meu. Eu prefiro o teu ovo mexido, o teu cafuné e o cheiro que você deixava pela casa. Foi amor, eu sei. Desses que desorganizam tudo na vida da gente e dá um trabalhão pra botar tudo no lugar. Por essas e outras, não mudei nada. Nem na casa, nem em mim. A porta tá aberta e você não precisa de convite pra entrar. Mesmo assim, te liguei. É que a saudade tava querendo me matar... [O telefone chamou duas vezes. Antes da terceira, achei melhor desligar...]

(Marílya Caroline)

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