domingo, 22 de julho de 2012

O erro foi seu


Já faz um tempo em que olhar para o relógio e ver horas iguais não me faz achar que você está pensando em mim. Eu sei que você não está. Deixei de depender das notícias que eu vasculhava para ter oxigênio para viver. Você tinha ido embora e eu precisava me reconstruir, sangrando ou não. Doeu um pouquinho no início, confesso. Se não tivesse doído, teria sido em vão passar tanto tempo contigo. Você fez falta, mas eu tenho aquela velha mania de substituir facilmente os móveis e objetos, sabe?! Descobri que poderia ser igual com você. A nossa música, que embalou tantos beijos e tantas noites que nem sei como descrever, me parece indiferente. Não paro mais um minuto para pensar no tão famoso "se". Se você tivesse ficado. Se você estivesse aqui. Se continuássemos juntos. Por mais insistentes que eles tenham sido em minha cabeça, nenhum me trouxe você de volta. E eu me conformei que você nunca entenderia uma só palavra minha. E eu entendi que você não via em mim mais do que uma acompanhante bonita, inteligente e apresentável. Você não viu a mulher que escondo, atrás dos meu olhar profundo. Iria entender agora? Iria aprender a ser homem durante o tempo em que estivéssemos juntos? Eu precisava que você soubesse ser e me provar que é longe ou perto. Eu precisava de você nos domingos, na hora do jogo do seu time ou de madrugada, quando o medo do escuro me tornasse uma criança e eu não quisesse nada além de ouvir de você que tudo iria ficar bem. Você nunca esteve ali, comigo. No máximo, permaneceu do meu lado enquanto a bebida estava gelada e o céu estava estrelado. Você nunca me surpreendeu, por mais que a minha ilusão de achar que você era o homem perfeito tenha escrito, por nós, muitas linhas e histórias não vividas. Você foi metade e eu. Ah! Eu sempre fui sua por inteira. Eu achava que você merecia o meu melhor e você só mostrava que o problema não estava na minha entrega. Era você quem tinha medo de me tomar pelo braço e possuir meu coração. Você não sabia nada sobre amor. Nem amor próprio, nem por outra pessoa. Eu digo isso porque ainda te vejo dedicando à bebida e a esses teus programas de gente vazia o tempo que você dizia não ter para mim. Eu sempre fui a neurótica, pegajosa e carente que te incomodava demais. Que te queria e te amava demais. Você estava cheio de certezas, mas não foi capaz de me passar nenhuma. O nosso amor, por muito tempo, viveu pendurado nos fiapos do meu empenho em ser um casal. Você não havia deixado de ser solteiro em nenhum beijo nosso. Em nenhuma das vezes em que meu corpo, minha alma e meu coração estiveram à tua disposição. Desastrado e desatento, você deixou tudo cair. Como quem não sabe manusear e ter uma mulher, você conseguiu me deixar mais vulnerável do que quando estávamos juntos. Demorou, viu?! Você foi ator por muito tempo e eu fui mocinha em muitos capítulos de nós dois, mas desisti. Até os amores mais bonitos e generosos cansam de ser unilaterais. Depois de tanto tempo, você parece ter sentido que me perdeu. Ainda não sei distinguir se você entendeu o que fez (e o que não fez) ou se apenas sentiu falta, tardiamente, de alguém para te ensinar a ser melhor do que tu és. É certo que tu irias fraquejar, mas eu não esperava que fosse tão cedo. E continuo não esperando que você bata à minha porta. Seria inútil e você sabe. Teu brinquedo quebrou, de tanto ser jogado ao chão. 

(M.C.)

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