domingo, 29 de julho de 2012

O que você tem?


Você tinha tudo para ser um cara qualquer. Era desapegado, desorganizado, mantinha um relacionamento sério com a bebida e só sabia falar fluentemente sobre futebol. Como os outros, também era bom no teatro. De cortinas abertas e platéia cheia, você gostava de encenar o conquistador. Não era por amor à profissão e tampouco pelo salário, que nunca te deu lucro algum, mas pelos aplausos. Como todo homem, você precisava ter o ego e a vaidade exaltadas para suprir a insegurança. Poucos sabiam dessa tua característica, mas eu a conhecia. Eu sei e você também sabe. Tinha a mesma pose de sempre e o mesmo jeito de se vestir. Com os amigos, costumava frequentar os mesmos lugares e usar as mesmas táticas para conquistar todos os tipos de mulheres. Com algumas dava certo e com outras nem tanto. Acho que me encaixo nessas "outras" que citei. Você tinha tudo para ser um cara como um outro qualquer. Eu poderia muito bem exercitar contigo os meus ensinamentos de como ser uma mulher desapegada e livre, mas você e eu havíamos nos tornado parecidos demais para sermos apenas um caso, como outro qualquer. Naquela noite, aconteceu a diferença. Eu não consegui te olhar como o "prato do dia" e você não me viu como "a caça da noite". Não sei porque as nossas armas falharam, se eu sempre mantive todas elas calibradas. Tentei disparar, mas deu. Falhou porquê você havia aparecido para me mostrar que eu não fui uma aluna tão aplicada na hora de aprender a não ser de ninguém. Eu precisava de um reforço e entendi isso quando você me chamou para sair, no dia seguinte, e eu aceitei. Nenhum outro homem havia arrancado de mim um "sim" com menos de algumas horas de conversa. Você só precisou me desconsertar com esse ar de "me desvenda" e eu topei. Você foi o meu desafio mais prazeroso. Ignorei o meu medo de altura e todos os outros que sempre me impediram de ir além, só pra ir contigo onde nenhum  homem havia me levado. Poxa, meses se passaram desde a minha última desilusão e eu estava quebrando todas as minhas promessas. Você não era o cara mais inteligente, tampouco o mais bonito e estiloso da festa, mas era você. Eu sabia.

(M.C.)

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