quarta-feira, 25 de julho de 2012

O reencontro


[Sexta-feira à noite, dia perfeito para a concentração do bloco dos solitários. Mais uma vez, ele se arruma e vai para a balada. Ela também. Parecia uma noite como todas as outras, mas algo ali parecia diferente...] De longe, ele avistou uma mulher que chamava a atenção de todos. Esguia, elegante e extremamente delicada em cada simples gesto, a morena de pouco mais de um metro e sessenta e cinco atraía mais olhares do que qualquer outro mulherão de passarela. Nunca a vi ali.Certamente, saberia reconhecê-la. Continuei a observar. Ela estava acompanhada de alguns amigos. Não tenho certeza, mas deduzi. Alguns homens e umas outras mulheres. Eles babavam sem que tivessem receio dos olhares em volta e as amigas, por mais belas que fossem, não chegavam perto da beleza dela. Haviam tantas, naquela noite, dançando à minha frente e desfilando, como se ali não fosse uma festa qualquer e sim um desfile de egos. Elas lutavam para serem notadas. Ela reluzia. Não sei ao certo o que me fez continuar observando. Talvez tenha sido o ar da mistério que ela deixava no ar. A vi de costas. Sua sutileza e seu vestido vermelho contrastavam perfeitamente com sua pele branquinha. Era veludo. Não toquei, mas eu não tinha dúvidas. Fiquei imaginando mil maneiras de me aproximar. Pensei uma, duas, três vezes e desisti. Ela parecia inatingível demais. Quando uma mulher daquelas iria olhar para mim? Comentei com alguns amigos, que estavam na mesa, sobre a beleza dela. De certo, não expus a minha insegurança. Me mostrar incapaz diante de outros concorrentes seria admitir a derrota, muito antes de iniciar a jogada. Decidi manter a minha pose de "macho-alfa" e comentei: "Ah, se caísse na minha rede...". Os comentários prosseguiam e continuavam no mesmo tom machista que enxerga a conquista como um troféu. Naquela noite, eu precisava ter aquela mulher na minha estante. Alguns metros me distanciavam dela. O encantamento me tomou de uma forma que eu me encantei pelo seu semblante. De longe, não dava para reconhecê-la, mas eu tenho certeza de que não esqueceria uma mulher assim. De repente, a música ficou lenta. Senti vontade de pegar um drink e me aproximar, como quem não quer nada. Tomei coragem e fui. Quando chego mais perto, a surpresa: a mulher que tanto me roubou a atenção, durante a noite, não me era estranha. Me aproximei ainda mais e ela finalmente notou a minha presença, mas não fez questão nenhuma de me dar um "Oi. Como vai?". Se não fosse por consideração, que fosse ao menos por gentileza. Eu aceitaria a frieza, mas me doeu a indiferença. O sangue gelou e eu não tive coragem de ir além. Mil coisas passaram pela minha cabeça e os metros que me distanciavam de onde ela estava, linda como nunca havia visto, pareceram quilômetros. A mulher que se destacava entre as outras e que conseguiu prender a minha atenção por mais que 15 minutos era a minha ex. Nem sei se posso chamá-la assim pois, na verdade, nunca tivemos algo sério. Não por falta de interesse dela, mas por imaturidade minha. A fiz sofrer muito. Nunca fui de me importar, mas sei que fiz. Quando acabamos, ela chorou muito. Me pediu para voltar e eu acabava recusando as ligações, por estar ocupado durante a noite, com alguns amigos tão babacas quanto eu e umas mulheres iguais. Ela era diferente, mas cansou. Dias depois, recebi uma mensagem no celular. Ela era me dizendo que um dia eu ia me arrepender de tudo o que lhe fiz e que iria vê-la bem. Confesso que fui indiferente, mas ela tinha razão. Aliás, ela sempre teve razão. Eu quem fui tolo em perdê-la. Ouvi dizer que canalizou toda a decepção que teve comigo em empenho para estudar, se formar, ficar bonita e crescer. Dizem também que ela nunca mais permitiu que qualquer babaca fizesse ela acreditar, mais uma vez, no que não existe. Ela fez bem. De fato, ela nunca mereceu isso. Hoje está aí, formada, bem sucedida e independente. Eu continuo no mesmo lugar. Naquela noite, não só perdi o meu troféu, como reconheci que perdi um grande tesouro. A menina frágil, insegura e pegajosa é um mulherão. E eu? Eu continuo sendo o mesmo cara vazio. A diferença é que o jogo virou. O que eu jurava que nunca iria acontecer, aconteceu. 

(M.C.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário